
DNA
SOLEDAD
TERCEIRA GERAÇÃO
SOLEDAD BARRETT VIEDMA

ultimo encontro das irmãs


músico uruguaio que a homenageou com uma canção apos a morte

documento da comissão da verdade




O Massacre da Chácara São Bento, como ficou conhecido um triste episódio da história da ditadura, ocorreu, na versão das forças da repressão, no início da noite do dia 8 de janeiro de 1973, em Recife, Pernambuco, Brasil. Os jornais noticiaram como um tiroteio entre a polícia e um grupo de “subversivos” que supostamente estariam promovendo um congresso da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Entre os corpos encontrados estava o de Soledad Barrett Viedma. Um dos integrantes do grupo teria fugido.
Somente a partir de 1995, após a criação da Comissão Especial de Reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos Políticos, foi possível confirmar oficialmente o que muitos suspeitavam e alguns sabiam: a versão da época era totalmente falsa. Todos os encontrados na chácara haviam sido presos em dias anteriores, em diferentes locais.
Soledad Barrett e Pauline Reichtsul, outra integrante do grupo, foram arrancadas da boutique na qual trabalhavam por cinco homens fortemente armados, que se disseram policiais. As duas já teriam saído praticamente mortas de lá, segundo testemunhas. Dois fatos agravam o drama desse episódio. Primeiro, ela estava grávida. Segundo, o integrante “fugitivo”, seu companheiro e pai do seu filho, era o traidor Cabo Anselmo e, provavelmente, participou do grupo que a prendeu.
Soledad Barrett Viedma nasceu a 6 de janeiro de 1945, em Yavevyry, Paraguai. Sofreu o primeiro exílio durante a guerra civil de 1947, quando sua família em fuga atravessou de barco o rio Paraná para Ituzaingó, província de Corrientes, na Argentina.
Entre os anos de 1954 a 1961, de volta ao Paraguai, sofreu todas as consequências da perseguição a seu pai e a seus irmãos maiores, investigações e prisões que muitas vezes ocorreram dentro de sua casa. Em 1961 foi obrigada a abandonar o país rumo a novo exílio, desta vez para o Uruguai.
Em 1962, aos 17 anos, Soledad se transformou em uma figura pública ao se engajar nos atos de solidariedade ao Paraguai que ocorriam em Montevidéu. A graça e o dom para a dança e o canto, com sua “extraordinária beleza e dotada de um especial encanto pessoal” (Mario Benedetti), apresentava o folclore paraguaio em tais eventos.
Em julho desse mesmo ano foi sequestrada por neonazista que, em cada uma de suas coxas, desenharam a suástica com uma gilete, por ela se negar a clamar “Viva Hitler!” e “Abaixo Fidel!”. Horas depois, durante a madrugada, foi jogada em uma rua escura. As cicatrizes ficaram para o resto de sua vida e as marcas da injustiça também. Mesmo tendo reconhecido um dos sequestradores, a polícia se negou a prendê-lo e investigá-lo por ser o filho de uma pessoa da elite montevideana. “Estas tatuagens, encheron de assombro a certo Uruguai que vivia na lua” escreveu Mario Benedetti em um poema em sua homenagem.
Após esse acontecimento e devido ao encaminhamento dado pela polícia, Soledad foi enviada, com ajuda de um dos seus irmãos, para Moscou, URSS, onde estudou por um ano. Ao retornar, mais madura e com formação mais definida, se aproximou do Partido Comunista iniciando atividades na Argentina e no Uruguai.
No final de 1967, mudou-se para Cuba visando treinar para a luta armada. Lá conheceu José Maria Ferreira de Araújo, brasileiro, integrante da VPR no Brasil, que estava naquele país pelos mesmos motivos que ela. Os dois iniciaram um relacionamento, casaram-se, e dessa união, nasceu Ñasaindy.
Em julho de 1970 José Maria regressou ao Brasil. Em setembro foi preso e morreu durante sessão de tortura. Cinco meses depois, Soledad decidiu sair de Cuba e retornar às suas atividades políticas. Em dezembro de 1971, após uma temporada entre o Chile e o Uruguai, desembarcou no Brasil, com o objetivo de fortalecer e ampliar as ações da VPR no Nordeste.
Ao chegar, constatou a morte do José Maria. Embora abalada, dispôs-se a continuar no movimento, sendo acolhida por um amigo (Cabo Anselmo) que, na verdade, fora o delator de seu marido. Com ele teve um envolvimento que resultou na sua gravidez. O que não imaginava era que esse companheiro de luta e de relacionamento era um agente duplo, que também iria trai-la e entregá-la às forças da repressão.
Soledad foi presa e assassinada dois dias depois de completar 28 anos, em 1973. O Paraguai nunca reclamou seus restos mortais e os familiares nunca conseguiram encontrar e resgatar o seu corpo.





